Cais do Valongo
“Eu desci aqui, eu pisei na areia desta praia
e depois vi os meus pisarem as pedras deste cais.”
Trecho do romance histórico “O Crime do Cais do Valongo”
de Eliana Alves Cruz
O Cais do Valongo é reconhecido como o maior porto de desembarque de africanos escravizados do mundo.
Um verdadeiro complexo se formou em torno do novo porto dedicado a esse comércio: o mercado de escravizados, o lazareto e o cemitério dos Pretos Novos foram transferidos da Praça XV para a região.
Em novembro de 1831, com a assinatura da primeira lei que proibia o tráfico de escravizados, o Cais do Valongo foi desativado. Poucos anos depois, em 1843, o local foi aterrado pela primeira vez, em ocasião da chegada da imperatriz Teresa Cristina ao Brasil. Já em 1904, o então Cais da Imperatriz foi novamente soterrado, dando lugar à Praça Jornal do Comércio.
Essa prática — de literalmente enterrar os locais de memória da escravidão — foi adotada de forma sistemática pelo Estado brasileiro, numa tentativa de apagar da paisagem urbana os vestígios de um dos maiores crimes contra a humanidade.
Entretanto, com as obras de reurbanização do Porto Maravilha, o Cais do Valongo foi redescoberto. A partir das reivindicações do Movimento Negro e de diversos agentes da sociedade civil, em 2011 iniciaram-se as escavações arqueológicas com o objetivo de desenterrar a memória silenciada da escravidão.
Em 2017, a Unesco concedeu ao Cais do Valongo o título de Patrimônio Mundial da Humanidade. Para a população negra, o local é um território sagrado de memória e reverência à ancestralidade; para toda a sociedade brasileira, representa um lembrete da dívida histórica do Estado com a população negra e da urgência de reconhecer e preservar essa herança.
Cais do Valongo.



