Aliança para o Progresso
1964
Igor B. Cardoso
Em 1961, o governo de John F. Kennedy assinou um ambicioso acordo de ajuda econômica para a América Latina: a Aliança para o Progresso. Anunciado como “revolução pacífica” pelo presidente norte-americano, o programa disponibilizava como empréstimo cerca de 20 bilhões de dólares para o desenvolvimento socioeconômico da região em dez anos. Em contrapartida, os Estados Unidos exigiam dos países beneficiários obediência a alguns critérios, como aplicar os recursos em justiça social, respeitar as instituições democráticas e os direitos civis. No contexto da Guerra Fria, a alocação dos recursos financeiros e a propaganda eram armas tão eficientes quanto as bélicas.
A percepção do governo Kennedy era de que o comunismo representava um risco de segurança aos Estados Unidos. Tal preocupação foi acentuada em 1960, quando Cuba entrou na órbita soviética. A Aliança para o Progresso serviria como espécie de política de contenção ideológica para combater o comunismo e o surgimento de novas Cubas em território americano. Por isso, o financiamento fomentava um tipo específico de projetos, mais relacionado ao modelo capitalista, dando à iniciativa privada um papel de destaque.
No caso brasileiro, Washington privilegiou a distribuição do recurso a estados governados pela oposição ao presidente João Goulart (PTB), entre os quais São Paulo, de Ademar de Barros (PSP), Guanabara, de Carlos Lacerda (UDN), e Minas Gerais, de Magalhães Pinto (UDN). Essa política foi denominada pelo próprio embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, como “política de ilhas de sanidade administrativa”. A medida visava fortalecer popularmente governadores anticomunistas e alterar o equilíbrio de forças políticas no Brasil, obrigando Goulart a moderar as atitudes, assumir compromissos com as lideranças estaduais consideradas “democráticas” e enfraquecer o vínculo do governo federal com as organizações de esquerda – como o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), que pressionava pelas reformas de base.
As desapropriações levadas a cabo por Leonel Brizola (PTB), quando governador do Rio Grande do Sul, contra as subsidiárias norte-americanas de energia e telefonia foram consideradas radicais pelo governo Kennedy, de modo que tais reformas e outras semelhantes estariam fora do radar de apoio do programa. Em contrapartida, muitos recursos foram alocados para a construção de conjuntos habitacionais populares na Guanabara. Não por acaso, os governadores beneficiados com o financiamento americano, de acordo com a lógica das “ilhas de sanidade administrativa”, mostraram-se centrais na desestabilização do governo Goulart e no Golpe de 1964.
Capa de material de campanha apresentando a Aliança para o Progresso. Acervo Projeto República / UFMG



