1ª página do jornal Correio da Manhã no dia do golpe
1º de abril de 1964
Nayara Henriques
O Correio da Manhã era, como o nome indica, um periódico matinal. As prensas rodavam pela madrugada garantindo que os jornais estivessem nas bancas e nas mãos dos leitores logo cedo. Entre os dias 31 de março e 2 de abril de 1964, o fechamento das edições contou com a apuração até o último segundo antes de enviá-las para a impressão. A expectativa não era apenas pelas notícias, mas também pelos editoriais com suas opiniões sobre os últimos acontecimentos do país.
Na terça-feira, 31 de março, o Correio da Manhã questionou: “Até que ponto o presidente da República abusará da paciência da Nação?”. E no dia seguinte respondeu: “Chegou ao limite final a capacidade de tolerá-lo por mais tempo”. Na esteira dos acontecimentos políticos do Brasil, especialmente a insatisfação com o governo de João Goulart e os primeiros momentos do golpe de Estado, os jornais se posicionaram – a maioria ao lado dos militares. Contando com sua influência sobre a opinião popular, a imprensa ajudou a promover a ideia de que o Brasil passava por uma “revolução” e que, agora, estava – finalmente – livre da “completa desordem e a completa anarquia no campo administrativo e financeiro”, como dizia o Correio da Manhã do dia 1º de abril. Nas entrelinhas, estava o plano articulado por civis e militares para desestabilizar o governo de João Goulart, utilizando manobras legais para depor o presidente e usando a imprensa a seu favor.
A opinião popular, claro, sofreria influência direta dos jornais e seus editoriais. O discurso do Correio da Manhã parecia coerente: a legalidade do governo Jango foi defendida em 1961, mas, agora, o presidente havia extrapolado o seu poder constitucional e a sua saída era mais do que justificada. Portanto, a única solução para defender a democracia, diziam os editoriais, seria atacar a sua maior ameaça e retirá-lo do poder. Assim, os jornais colocavam em xeque a governabilidade e a popularidade de João Goulart.
No dia 2 de abril, o jornal anunciou a “Vitória” em seu editorial: “O Correio da Manhã desfraldou a bandeira da legalidade e da defesa das instituições. E saiu vitorioso”. Era também a vitória “da democracia e da nação brasileira”. Mas a derrota não tardou: nos dias seguintes começaram as cassações políticas, as prisões e a primeira suspensão de eleições foi anunciada.
Jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 1º de abril de 1964. Hemeroteca Digital / Fundação Biblioteca Nacional



