Greve dos trabalhadores do Grupo Rio Light
15 de janeiro de 1964
Igor B. Cardoso
A greve deflagrada pelos trabalhadores do Grupo Rio Light, responsável pela distribuição de gás, energia elétrica, telefonia e transporte, paralisou grande parte dos serviços públicos nos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro nas primeiras semanas de 1964. Tropas do Exército e do choque da Polícia Militar foram acionadas para guarnecer os setores da Light em que os trabalhadores haviam aderido à greve. Alguns sindicalistas chegaram a ser presos em razão de piquetes, mas logo foram soltos.
A situação caótica em que moradores, comerciantes e industriais conviviam diariamente com racionamento de energia, no entanto, não expressava apenas o arrocho salarial com uma inflação galopante. Tampouco dizia respeito somente à estiagem prolongada e à sucessiva falta de planejamento dos governos em modernizar a infraestrutura do estado. A crise era também política.
Em pé de guerra com o Congresso Nacional – majoritariamente formado por parlamentares ligados a interesses de empresários e latifundiários –, o presidente João Goulart (PTB) contava com o apoio das ruas para abrir caminho à política institucional e avançar nas Reformas de Base. Entre outras medidas, propunha regulamentar a remessa de lucros das multinacionais para suas matrizes e a reforma agrária. Ex-ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, Goulart tinha crédito entre os trabalhadores, mas não podia errar a mão. Setores da esquerda acusavam o presidente de ser conciliatório demais, ao tentar realizar as reformas respeitando um Congresso que era considerado muito conservador.
Do outro lado, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda (UDN), acusava sistematicamente Goulart de promover uma “República sindicalista”. Essa pecha caía como luva em quase toda a imprensa. Meses antes, no dia 13 de setembro de 1963, o editorial do Jornal do Brasil – um dos maiores do país –, dizia “Basta” contra a dita “revolução” comunista tramada dentro da própria Presidência da República.
Assim, não era estranho ver Lacerda declarar no mesmo jornal que a greve salarial contra a Light seria “uma etapa de uma guerra revolucionária” promovida pelos trabalhistas com o objetivo de sabotar seu governo e justificar uma intervenção federal. Enquanto isso, o Ministro do Trabalho Amaury Silva, saindo em defesa de Goulart, culpou o governo da Guanabara de não se mobilizar para resolver os problemas.
Perto de generalizar para uma greve geral, a paralisação teve fim depois de 72 horas. Ainda era verão. E as altas temperaturas não iriam arrefecer em 1964.
Greve da Light. Rio de Janeiro, 1964. TV Tupi. Fundo TV Tupi / Arquivo Nacional.
“Coordenação de racionamento de energia elétrica”. Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 1963. Fundo Correio da Manhã / Fundação Biblioteca Nacional.
Datilógrafas da seção de eletricidade. Rio de Janeiro, Sem Data. Fotografia de Ferreira Junior. Fundo Correio da Manhã / Arquivo Nacional
“Greve da Light deixa Guanabara sem gás”. Rio de Janeiro, 15 de Janeiro de 1964. Jornal do Brasil. Fundo Jornal do Brasil / Fundação Biblioteca Nacional.
“Greve termina com o aumento das tarifas”. Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 1964. Diário de Notícias. Fundo Diário de Notícias / Fundação Biblioteca Nacional.



