Chegadas e partidas: retornos
Sou negro e venci tantas correntes
A glória de quebrar todos os grilhões
Na volta das espumas flutuantes
Mãe África receba seus leões
Samba enredo da Unidos da Tijuca, 2003. Haroldo Pereira. Valtinho Junior e Wantuir
O porto do Rio, assim como o Cais do Valongo e sua enseada, não eram apenas lugares de chegada, mas também de partida e miradas em direção ao Atlântico. Era por onde africanos e seus descendentes percebiam as conexões com a outra margem do oceano e podiam sonhar com a volta, com um retorno à terra natal.
Libertos, africanos em maioria, voltaram para a África a partir do Rio de Janeiro, em pleno vigor da escravidão no Brasil. Voltaram individualmente, e também, com muito trabalho e luta coletiva, organizaram-se, programaram e voltaram em grupo — alguns destes, com mais de cem pessoas.
O Atlântico foi também um rio com um fluxo de pessoas que se dirigiram às costas africanas. E a vitória sobre as correntes da escravidão pode ser dupla, algumas vezes significando também se colocar na contracorrente do tráfico escravista transoceânico. Além de idas e vindas de comerciantes, religiosos e trabalhadores marítimos, o Rio Atlântico foi cenário de retornos de africanos cruzando o oceano.