Bangu, um time operário

Uma das mais conhecidas relações entre empresa fabril e um clube de futebol foi o caso do Bangu Athletic Club, criado em 1904. Inicialmente, o clube restringia-se apenas aos trabalhadores de origem estrangeira que ocupavam cargos de chefia, mas, com o tempo, acabou integrando em seu quadro de sócios e de jogadores, os operários de outras origens. Em pouco tempo, o Bangu se tornou um clube verdadeiramente suburbano. Graças à presença de jogadores negros e mestiços, o time recebeu o apelido de “mulatinhos rosados”. 

O time do Bangu Athletic Club em 1905 com Francisco Carregal – o 1º negro da equipe – segurando a bola. Foto: Grêmio Literário José Mauro de Vasconcelos – retirado do site Jogada 10

O critério para escolher os jogadores-operários baseava-se em três aspectos: desempenho profissional, tempo de serviço na empresa e comportamento pessoal. A ideia seguia a seguinte lógica:se era um bom profissional e tinha um bom comportamento, seria mais capaz de obedecer às regras do jogo e saber lidar com o time. A fábrica confiava que um bom jogador seria um bom trabalhador, e vice versa. 

Ao ser escolhido para participar do Bangu Athletic Club, o trabalhador automaticamente passava a ter um trabalho mais leve e ia para a sala do pano cortar tecido, pois precisava descansar e economizar energia para os jogos. Além disso, saíam uma hora antes dos demais empregados para treinar no campo ao lado da fábrica. Os craques do time eram protegidos pela diretoria e, quase sempre, rapidamente promovidos.

O sucesso do time foi imenso e em pouco tempo ficou mais conhecido que a fábrica. Assim, o Bangu distingue-se de outros clubes do Rio de Janeiro por ser o precursor da democratização do acesso às práticas futebolísticas, o primeiro time operário do Rio de Janeiro e por ter dado aos jogadores operários privilégios e garantia de emprego.

O primeiro estádio do Bangu Athletic Club, inaugurado em 1906. Fonte: Bangu A.C.

Em 1906, mais precisamente em 13 de maio, o diretor-gerente da fábrica, João Ferrer, ao saber que o Bangu Athletic Club disputaria seu primeiro jogo amistoso, construiu o primeiro estádio do clube, pois naquele momento o time treinava em um espaço dentro da companhia.

A inauguração do novo campo rendeu uma vitória do Bangu sobre o Riachuelo, por 2 a 0. Em 1936, a arquibancada da rua Ferrer foi incendiada e o estádio precisou passar por reformas, sendo reinaugurado em maio do ano seguinte.

Vista Aérea da Fábrica Bangu com o estádio em seu terreno – 1940. Fonte: Museu Aeroespacial – Acervo Brasiliana Iconográfica

O campo acompanhou o clube e sua torcida até a venda do terreno, em 1944. A partir de então, o estádio da Rua Ferrer, com arquibancadas luxuosas e gramado inglês, ficaria na memória afetiva dos jogadores e frequentadores. Em 1947 foi inaugurado o Campo de Moça Bonita.

Matéria do Esporte Ilustrado, sobre a construção do Campo de Moça Bonita. Retirado do site Trivela

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