Ainda hoje, ao passarmos pela avenida Presidente Vargas no sentido Zona Norte, pouco após o Viaduto 31 de Março (que conecta a zona portuária ao túnel Santa Bárbara), podemos ver um edifício da velha fábrica de gás do [antigo caminho do] Aterrado, construída em 1853 por iniciativa do Barão de Mauá, onde destaca-se o torreão do relógio.
Depois de passar para uma empresa inglesa, em 1876 a concessão daqueles serviços de produção de gás e iluminação pública foi mais uma vez transferida para a empresa belga Société Anonyme du Gaz – SAG. Adquirida em 1905 pela Light, em 1912 foi inaugurada uma nova e portentosa fábrica de gás produzido a partir de carvão – instalada em terreno federal, integrante do projeto de modernização do porto do Rio e onde ainda hoje restam alguns vestígios daquele empreendimento em São Cristóvão, próximo ao viaduto do Gasômetro.
Todas as etapas da construção da nova fábrica de gás foram documentadas, constituindo um dos mais belos trabalhos de fotografia de engenharia realizados na cidade, por E. A. Mortimer. Na imagem, a estrutura já levantada da ‘casa das retortas’, onde se transformava o carvão em gás.
Nesta fotografia, um estágio mais avançado da construção na nova fábrica de gás.
Ao fundo da imagem e à esquerda do tanque de armazenamento/gasômetro, vê-se o hospital Frei Antônio (antigo hospital dos Lázaros) à rua São Cristóvão. Foi instalado no século XVIII; ali eram internados pacientes com hanseníase. Na extremidade direita, vê-se a torre da Igreja Matriz de São Cristóvão.
Em junho de 1911 a Société Anonyme du Gaz de Rio de Janeiro (SAG) inaugurou a nova fábrica de gás em São Cristóvão, junto ao Canal do Mangue, com um gasômetro de 90 mil metros cúbicos. “Uma pequena cidade” e “empreendimento relevante”, como foi dito à época, fascinava pelas dimensões, a profusão de chaminés e sua capacidade de produção. Ao fundo, no morro do Pinto, vê-se a capela de Nossa Senhora de Montserrat – à direita da maior chaminé. À esquerda da imagem, também ao fundo o morro da Providência, com seu oratório no topo.
O carvão chegava ao porto onde era descarregado em área específica, sendo depois transferido por meios mecânicos, incluindo pontes movediças, até as unidades de produção. As instalações da fábrica de gás chegavam até a beira do canal do Mangue.
Nesta fotografia e na seguinte, aspectos da fábrica de gás, instalada junto ao canal do mangue e ao cais do porto. Essa imagem de 1911 mostra o guindaste à beira do canal, que ainda estava em construção.
Nesta fotografia, de 1924, além do guindaste, vê-se à direita e em primeiro plano a pista que conduzia o carvão diretamente do porto para a fábrica. À esquerda, a avenida Francisco Bicalho com os trilhos do bonde. Ao fundo, destaca-se o morro do Corcovado.
Aqui, observa-se à esquerda o canal do Mangue e a avenida Francisco Bicalho. Por trás do tanque de armazenamento mais escuro e mais cheio, à direita, está o Hospital Frei Antônio dos Lázaros, do qual vê-se apenas a extremidade; logo atrás um edifício imponente abriga hoje, já reformado, o 1º Batalhão de Guardas – Batalhão do Imperador à avenida Pedro II, em São Cristóvão. Nesta imagem podemos constatar que a fábrica de gás estava integrada ao Porto do Rio; tal iniciativa partiu do Governo Federal, responsável pela construção do porto e cedente do terreno onde a fábrica de gás do grupo Light veio a instalar-se. Em 1966 a SAG, operada pela Light desde 1905, passou a empresa para o governo estadual, que criou a Companhia Estadual do Gás/CEG. No ano seguinte, o processo à base de carvão, já considerado ultrapassado, foi substituído pela nafta na produção do gás. Hoje, aquela nova fábrica instalada em terreno à beira do Canal do Mangue não mais existe, tampouco; a partir de 1982 a cidade passou a ser abastecida pelo gás natural, hoje sob a responsabilidade da Naturgy, empresa privada.
A seguir, uma sequência de fotografias destas que fogem por completo daquela ideia de um ‘Rio de Janeiro Cidade Maravilhosa’, com sua estupenda paisagem e sua urbe espremida entre o mar, as lagoas e as montanhas.... pois estas imagens foram produzidas aqui, no complexo de produção de gás que não mais existe, e são dotadas de atributos que fazem delas obras primas da fotografia carioca; por que não?
Nesta imagem, ao fundo e à direita a torre da primeira fábrica de gás; na rua, um bonde puxado a burro em dia chuvoso
Na última imagem desta série, a companhia de gás da rua São Cristóvão.