Entre tiros, sirenes e helicópteros

Confronto entre policiais e traficantes

A potência sonora vai depender do lugar onde está o ouvinte. Quando ele está em seu apartamento, no bairro de Botafogo, por exemplo, e as rajadas de tiros irrompem na madrugada do morro Dona Marta, o ruído pode ser tão forte que lhe perturba o sono. Mas se ele está em sua casa no próprio Dona Marta, a sensação auditiva é a de mergulhar, dizem, no interior de uma guerra.    

Foto: Mirian Fichtner – Soldados do tráfico – Agência Tyba

Algumas vezes, o processo começa com um burburinho. A notícia de que vai ter confronto corre no morro de boca a boca. Os apitos de aplicativos como o Whatsapp pulsam sem cessar: é preciso alertar quem está fora da favela. Aumenta o som de tevês, as crianças precisam ficar em casa. A trama de música que, em geral, se mistura pelos becos e ruelas, parece encolher. Outras vezes, porém, não há aviso prévio: só a primeira explosão, que inicia a sequência de tiros, a gritaria, as correrias, o silêncio de quem se joga no chão, ao lado da família, tentando conter o choro infantil, para se proteger das balas. Algumas vezes, o ruído de um helicóptero blindado, o chamado “Caveirão Voador”, equipado com metralhadoras, integra essa orquestra macabra.

Foto: Oscar Macieira – Operação do BOPE – Agência Tyba

Há o som dos coturnos dos policiais. O clape clape dos chinelos de borracha dos traficantes, geralmente ainda garotos, se esgueirando pelas lajes. O tiro seco dos revólveres e a rajada com seu som longo e terrível: fuzis, metralhadoras. Há os gritos dos comandos que se desdobram nas perseguições e o choro convulso das mães sobre o corpo ensanguentado dos filhos mortos. Há o estampido dos flashes dos fotógrafos, em alguns casos, e a voz do repórter narrando mais um confronto para a tevê. Há, nos dias seguintes, a voz do policial imprimindo “duras” ao caminho dos moradores, o ruído do zíper abrindo mochilas e bolsas para serem revistadas, a explosão abrupta de portas sendo abertas a pontapés, nos episódios de abuso policial, que alguns moradores de favela conseguem narrar, apesar do medo. Há também muitos tipos de silêncio emaranhados a essas histórias corriqueiras de tiroteios e mortes, de confrontos e de medo. De uma guerra particular.   

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