O mar como regente


Olha o mate!

 

O barulho das ondas é pano de fundo para a malha de buzinas, campainhas de bicicleta, ruídos urbanos, bordões de ambulantes: “Ó o mate! Ó o limão! Limonada, mate!”, “É peteleco no dente, soco na mente!”. A experiência sonora de uma ida à praia, no Rio, pode ser surpreendente. Isso porque as melodias típicas de um balneário — gritinhos infantis, o ressoar da água batendo na areia — misturam-se aos traços de cultura local que se impõem sobre a algaravia — a mistura de samba e funk emanando das aparelhagens de som, as gírias e os assovios, os barulhos das competições esportivas na areia.   

Foto: Américo Vermelho. Praias de Ipanema, Copacabana e Arpoador com Pão de Açúcar ao fundo
Som das ondas do mar

Essas, aliás, são muitas. A “altinha”, por exemplo, é um jogo que surgiu nas areias cariocas e virou febre no país todo. Ele só é permitido na beira da água antes das 8h e depois das 17h. Por isso, o anoitecer nas praias do Rio costuma ser marcado pelo estampido seco e repetitivo da bola rebatendo nas canelas, peitos e cabeças. O frescobol, outro esporte típico desse pedaço de orla, foi inventado nas areias de Copacabana há mais de 70 anos, mas logo disseminou entre outras praias o estalar da bola que bate nas raquetes de madeira. 

Foto: Américo Vermelho – Pedra do Arpoador

Os sons que tomam o litoral da capital fluminense, porém, também podem ser espetaculares. As praias cariocas costumam ser palco de shows que passeiam da música clássica ao rock. Vide o lendário concerto que os Rolling Stones fizeram na praia de Copacabana, em 2006. Ao mesmo tempo, há praias cariocas em que apenas o silêncio costuma acompanhar os ruídos da natureza. É o caso da praia do Secreto, na região do Recreio dos Bandeirantes, acessível apenas por uma trilha, e que costuma ficar deserta em dias de semana.

Foto: Américo Vermelho – Praia de Ipanema

Não podemos esquecer, ainda, de um som que tem se tornado cada vez mais típico nas areias: os aplausos. Já se tornou um ritual corriqueiro, mas que ainda emociona alguns turistas. Milhares de banhistas batem palmas ao espetáculo que é o pôr do sol visto da praia, compondo um instante em que o som, produzido por tantos e tantos corpos, expressa a força de um arrebatamento singular.

Foto: Américo Vermelho – Praia de Copacabana

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