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Crianças posam ao lado de réplica da Estátua da Liberdade na Vila Kennedy

20 de janeiro de 1964

Igor B. Cardoso 

Inaugurada em 20 de janeiro de 1964, a Vila Kennedy recebeu uma curiosa escultura. Pouco se sabe como uma das maquetes feitas como modelo para a produção da Estátua da Liberdade, do artista francês Frederic Augusto Bartholdi, veio parar no Brasil. Porém, conta-se que quando Carlos Lacerda, governador da Guanabara, visitou os jardins da casa do comendador José Pereira da Rocha Paranhos, onde a maquete se encontrava, teve a ideia de instalá- la na Vila Kennedy. A vila era um dos quatro conjuntos habitacionais – além dela, Vila Esperança, Vila Aliança e Cidade de Deus – construídos com financiamento norte-americano para abrigar cerca de 42 mil favelados despejados de suas casas.

Com nome em homenagem ao presidente assassinado meses antes da inauguração, a Vila Kennedy era resultado de um programa de empréstimo financeiro dos Estados Unidos a países da América Latina, entre eles o Brasil. Mais do que apoio socioeconômico, a Aliança para o Progresso era um típico produto político da Guerra Fria: visava frear o avanço do comunismo no continente americano e, no caso brasileiro, conferiu subsídios a estados alinhados ao bloco norte-americano.

O programa habitacional defendido por Lacerda incluía a remoção de favelas em áreas centrais da atual cidade do Rio de Janeiro, como de Pasmado e Getúlio Vargas, e a transferência dessas populações carentes para áreas periféricas. Além da distância do centro urbano, os novos moradores reclamaram da segregação das famílias, da falta de infraestrutura, como de iluminação pública, e do endividamento, já que as famílias deveriam pagar mensalidades à Companhia de Habitação Popular do Estado da Guanabara. Aqueles que não tinham renda mínima acabaram em áreas de triagem, muitas das quais se tornaram moradias permanentes, favelizando-se, como é o caso do Complexo da Maré.

Tais medidas adotadas por Lacerda eram assentadas em princípios ideológicos, mais do que em estudos técnicos que propunham solucionar o problema de moradia. De fundo, a ideia era que os ex-favelados pudessem se tornar proprietários de casas individuais por meio de seus próprios esforços. Em entrevista ao Jornal do Brasil, a secretária de Serviços Sociais da Guanabara, Sandra Cavalcanti, disse que, na condição de proprietários, os moradores despejados “ganham crédito na praça, um lugar saudável para educar os filhos e a garantia de tranquilidade no futuro”. Apesar do tom eufórico, quatro anos depois, o mesmo jornal noticiaria o fracasso do projeto, apontando a queda de renda dos moradores, o aumento da criminalidade, o retorno dos moradores removidos a favelas, além de que as 1200 crianças nascidas no conjunto eram “tão raquíticas e subnutridas quanto às das favelas” que suas perspectivas não eram melhores.

 Rio de Janeiro, 13 de abril de 1964. Fotógrafo desconhecido. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro

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