Seta para voltar à página anterior

Moradores do Morro do Pasmado são despejados de suas casas

18 de janeiro de 1964

Igor B. Cardoso 

Os moradores do Morro do Pasmado, um dos mais belos cartões postais da Baía da Guanabara, em Botafogo, foram despejados de suas casas no início de 1964. A mando do Governador da Guanabara Carlos Lacerda (UDN), os barracões foram incendiados dias depois, a fim de impedir o retorno das 911 famílias. Lacerda acreditava que o Pasmado, por sua localização privilegiada, estava desperdiçado. As casas populares deveriam dar lugar a um parque ou, quem sabe, um hotel turístico.

Nos planos de Lacerda, os moradores deveriam ser transferidos para Bangu, zona Oeste do Rio de Janeiro, a algumas dezenas de quilômetros de onde foram removidos. Ali foram construídas vilas habitacionais, como Vila Aliança e Vila Kennedy, a partir de recursos do fundo da Aliança para o Progresso, fruto de um acordo com o governo dos Estados Unidos. Em discurso para a imprensa, Sandra Cavalcanti, secretária de Serviço Social da Guanabara, definiu a operação Pasmado como a “primeira revolução social realizada no Brasil”.

Contra o tom eufórico, alguns jornais noticiaram o clima de insatisfação da população. Em Bangu, para onde foram transferidos, os moradores não tinham água encanada, iluminação pública, o transporte era precário e, para piorar a situação, deveriam pagar uma mensalidade por moradias que não queriam, sem sequer receberem indenização pelos barracões destruídos pelo governo. Uma das moradoras de Pasmado soltou o verbo contra Sandra Cavalcanti: “essa dona fala de Bangu com a boca tão cheia, que até parece que Bangu tem praia!”.

A política urbana de Lacerda era parte de um quadro mais amplo, que opunha o governo da Guanabara e o federal, do presidente João Goulart (PTB). Na contramão do governo estadual, Goulart propunha uma reforma urbana em que algumas propriedades ociosas em áreas nobres da cidade, especialmente aquelas que se valiam da especulação imobiliária, pudessem ser desapropriadas para a ocupação dos favelados. Assim, os moradores não seriam deslocados para áreas periféricas, permanecendo próximos de suas famílias e empregos, bem como da infraestrutura urbana já estabelecida. Não por acaso, as denúncias de violência praticadas contra os moradores removidos foram direcionadas à Presidência da república, expressando a compreensão de duas políticas distintas – estadual e federal – para os favelados.

Com o golpe e a cassação de parlamentares, a política de remoção perdeu opositores no Congresso. Em contrapartida, gerou debate e organização dos moradores das favelas. Etevaldo Justino de Oliveira, diretor da Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara, sintetizou o que seria o início do movimento contra a política de remoção das favelas: “Bangu não: urbanização das favelas, sim!”

Rio de Janeiro, 18 de janeiro de 1964. Fotógrafo desconhecido. Fundo Correio da Manhã / Arquivo Nacional

.

Patrocínios

.

Parceiros

Realização

Pular para o conteúdo