Fundação da Cidade e o Centro
O relevo do Rio de Janeiro revela diversos pontões rochosos semelhantes a pães de açúcar que compõem uma paisagem montanhosa recortada por diversas enseadas no litoral. Já na entrada da Baía de Guanabara encontramos a Praia Vermelha, as enseadas da Praia da Saudade (atual Iate Clube), Botafogo, Flamengo, Glória até a Praça XV. Pequenos morros e pontões rochosos apoiam esses arcos de praia, dando o recorte desse litoral e algumas ilhas que beiram a costa.

A fundação da cidade tem relação direta com a distribuição desses pontões rochosos e enseadas, quando os portugueses chegam para expulsar franceses e depois indígenas da Baía de Guanabara. A península isolada do Pão de Açúcar serve de base militar para as investidas bélicas de Estácio de Sá, comandante da tropa portuguesa, para a batalha travada entre a Ilha de Villegagnon e a Praia da Glória, locais onde se instalou a França Antártica.

Com a conquista portuguesa, a cidade passa para a enseada da Praça XV, a primeira enseada que dá acesso às terras firmes agricultáveis, já que as praias de Botafogo e Flamengo só dão acesso a vales estreitos ou a planícies arenosas e salgadas em direção à atual Zona Sul.

A cidade se expande entre três grandes maciços rochosos: Maciço da Tijuca, Maciço da Pedra Branca e Maciço de Gericinó-Mendanha. Aí já se apresenta um fator físico importante: os maciços são florestados, com encostas íngremes e circundados de baixadas alagadas e pantanosas, que chegam ao litoral arenoso e repleto de lagoas costeiras ou lagunas, de água salgada ou salobra.

Os bairros evoluem nessa disposição espacial e respondem sempre ao investimento de capital desde as épocas coloniais até o capitalismo moderno, criando assim uma cidade com materialidades distintas que privilegiam certos bairros em termos de serviço e infraestrutura urbana.
Essa distinção vem desde os tempos em que a cidade estava restrita à baixada existente entre a praça XV e o Saco de São Diogo, um enorme braço de mar que entrava pela Gamboa, onde hoje é a rodoviária, até a atual Cidade Nova, constituindo um importante manguezal na foz dos rios Maracanã e Joana. O mangue foi a periferia da cidade até 1900, onde se constituiu a “Pequena África”, na Praça XI, berço do samba, e a primeira favela no Morro da Providência.

Depois, já como Distrito Federal e repleta de planos urbanos higienistas, os brejos e estuários da cidade foram aterrados e a divisão entre bairros proletários e residenciais de luxo foi projetada.
