Prevenções
A busca de soluções para os problemas criados pelo modelo de urbanização sobre o complexo sítio geomorfológico da cidade faz parte de nossa história, também. Os processos e ações de prevenção sempre vêm a reboque dos episódios, catastróficos ou não, que assolam a cidade. Mesmo os processos de aterro e canalização de rios, tinham essa conotação em algum momento da urbanização. Conviver com mangues, brejos, alagados, lagunas, chuvas torrenciais, deslizamentos de encostas era e é, afinal, um desafio histórico à ocupação e as soluções foram dadas de acordo com a crença e a tecnologia da época.
Um marco histórico nos processos de prevenção de risco na Cidade do Rio de Janeiro é a criação da GeoRio (Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro), em 1966, em resposta ao grande evento chuvoso que derrubou encostas no Bairro de Santa Teresa, deixando algumas dezenas de mortos. Essa foi sem dúvida uma resposta positiva da Prefeitura, criando uma fundação responsável pelos estudos geológico-geotécnicos, mapeamento de risco e indicação de obras de contenção. Áureos tempos da década de 1970 e 1980 onde grandes obras foram realizadas e muitas encostas foram sanadas do risco que ofereciam. Ainda hoje, os capacitados técnicos do órgão, apoiados por diversas universidades que desenvolveram seus núcleos de estudos geotécnicos, garantem a segurança de muitas de nossas encostas.
Novamente, em resposta a episódios catastróficos, neste caso os deslizamentos de 1996, a GeoRio, criou o Sistema de Alerta “Alerta Rio”, com uma extensa rede de pluviômetros, monitorando as entradas de precipitação sobre a cidade em tempo real, com medições de 15 em 15 minutos e permitindo a emissão de alertas para toda a comunidade carioca. No início, já começa a existir sobre a forma de site, na nascente internet brasileira e hoje disponível nos sistemas de telefonia celular. A expertise em geotecnologia e geoprocessamento, foi fundamental para a construção de um sistema de alerta e mapeamento de áreas de risco. Ela criou um banco de dados sobre os morros e as áreas propensas a desastres, utilizando imagens de satélite, radares e levantamentos de campo, o que permitiu uma maior precisão na identificação de locais críticos. O Sistema Alerta Rio foi incrementado, ampliando a capacidade de previsão e resposta da cidade. O sistema, que envolve 33 estações meteorológicas e sensores espalhados pela cidade, realiza monitoramento em tempo real das condições climáticas e oferece previsões sobre chuvas e tempestades. Essa rede de monitoramento passou a fornecer informações detalhadas e antecipadas, não apenas sobre a intensidade das chuvas, mas também sobre a probabilidade de deslizamentos de terra em áreas com risco elevado. O Alerta Rio se tornou uma ferramenta essencial para as autoridades e para os próprios cidadãos, que passaram a receber notificações em tempo hábil, permitindo evacuações e ações preventivas mais eficientes.
Após os acidentes de 2010, foi criado o Centro de Operações Rio, hoje rebatizado como Centro de Operações e Resiliência (COR), que centralizou a coordenação das ações de emergência na cidade. O COR integra diversas áreas da administração municipal, incluindo Defesa Civil, Guarda Municipal e Corpo de Bombeiros, permitindo uma resposta mais rápida e coordenada em situações de risco. Por meio de um sistema de monitoramento integrado, o COR é capaz de emitir alertas em tempo real sobre áreas afetadas por chuvas intensas, deslizamentos e alagamentos, além de coordenar a mobilização de recursos para as regiões mais impactadas. Como o próprio texto institucional propõe: “O COR tem uma dinâmica única e inédita. Antes de sua criação, chuvas e outros eventos pegavam a administração pública e os cariocas de surpresa. Depois do COR, soluções são antecipadas, alertando os setores responsáveis sobre os riscos e as medidas urgentes que devem ser tomadas em casos de crise”.
Essas ações conjuntas, que unem tecnologia de ponta e uma estrutura de resposta emergencial, são reflexo do esforço da Prefeitura do Rio em prevenir desastres naturais e minimizar os danos às comunidades mais vulneráveis. Contudo, apesar dos avanços, o desafio continua sendo a ocupação e o crescimento sob a lógica do mercado imobiliário que vê na cidade a oportunidade de negócios e não do bem viver. Claro que a cidade exige, além de medidas emergenciais, uma reestruturação urbana mais robusta e sustentável. A integração das tecnologias de monitoramento com a gestão pública é um passo importante, mas ainda é necessário aprofundar políticas de urbanização responsáveis para evitar que as tragédias se repitam.
Ao longo das últimas décadas, a Prefeitura do Rio de Janeiro implementou diversas obras com o objetivo de mitigar os impactos das enchentes, especialmente em áreas de baixo relevo e de drenagem precária. Entre as principais iniciativas destacam-se a construção de piscinões e a modernização dos sistemas de drenagem, que buscam aumentar a capacidade de escoamento das águas pluviais e reduzir os alagamentos urbanos.
Um dos destaques de obras contra as enchentes foi o Piscinão da Praça da Bandeira, construído na Zona Norte, uma região historicamente afetada por alagamentos devido à proximidade do Rio Maracanã e à topografia da área. A obra tem a função de aumentar a capacidade de drenagem do bairro e diminuir as inundações nas áreas ao redor. Este piscinão armazena temporariamente as águas da chuva, ajudando a aliviar os sistemas de drenagem da região, que, anteriormente, não conseguiam dar conta do volume das chuvas.
Essas obras são parte de uma série de iniciativas de infraestrutura voltadas para o controle de enchentes no município, ao lado da melhoria das redes de drenagem, da construção de bueiros e do desenvolvimento de sistemas de monitoramento e alerta, como o Alerta Rio. No entanto, agem no efeito, ou seja, trabalham para corrigir erros históricos do processo de construção da cidade, mas não evitam que novas áreas sob os mesmos moldes urbanização sejam continuadas. Portanto, no futuro teremos que agir novamente sobre o efeito, incrementando os gastos públicos em sistemas de alerta e obras monumentais.

Site de divulgação da prefeitura do Rio de Janeiro com as principais ações de prevenção contra as chuvas, atualizado a cada verão.

Principais tecnologias e ações de prevenção expostas no site da Prefeitura do Rio

Apresentação dos dados de chuva disponibilizados pelo site Alerta Rio da prefeitura do Rio

Mapa das estações pluviométricas do sistema Alerta Rio da Prefeitura do Rio

Mapa de riscos a deslizamentos de acordo com a entrada de chuvas, atualizado a cada 15 minutos pelo Sistema Alerta Rio da Prefeitura do Rio