Maciço da Pedra Branca

O Maciço da Pedra Branca ergue-se como uma das maiores estruturas geomorfológicas do município do Rio de Janeiro, revelando em sua constituição rochosa uma história geológica que remonta a um passado de 600 milhões de anos atrás. Trata-se de um corpo rochoso predominantemente composto por granitos, moldado ao longo de ciclos tectônicos que consolidaram os alicerces do atual relevo carioca. Essa base, marcada por fraturas e falhas, constitui a espinha dorsal de um território onde as formas do relevo expressam diretamente a resistência e a orientação das rochas que o sustentam.

Diferentemente de um maciço abrupto e vertiginoso como o da Tijuca, a Pedra Branca se desdobra em suaves domos e cristas alongadas, um relevo mais amplo e ondulado, mas de não menor imponência. Seu ponto culminante — o Pico da Pedra Branca, com 1.024 metros — desponta em um platô mais alto do município. A estrutura do maciço evidencia o trabalho da erosão diferencial, onde rochas mais resistentes preservam as altitudes, enquanto fraturas e outras zonas de fraqueza estrutural permitiram o encaixe de drenagens e o recuo das vertentes.

As feições topográficas do maciço seguem, em grande medida, a orientação dos lineamentos geológicos que cortam o substrato em direções preferenciais, como NE-SW e E-W, refletindo os eventos tectônicos que moldaram a borda atlântica da região sudeste. Essa disposição condiciona tanto a compartimentação interna do maciço quanto a organização de suas drenagens, que frequentemente assumem padrões retangulares, escoando para as áreas rebaixadas que o circundam.


Alguns pães de açúcar se destacam em sua vertente sudeste, voltada para a baixada de Jacarepaguá e Vargens, com destaque para o Morro do Dois Irmão da Taquara – novo cartão postal do Rio de Janeiro.

Morro dos Dois Irmãos da Taquara ou, também, conhecida como Pedra da Bruxa, é um novo cartão postal carioca, após a construção da Transolímpica que passa a seus pés.
Conjunto de pães de açúcar da vertente sul do Maciço da Pedra Branca. O processo de abertura oceânica com planos de falha mais abruptos voltados para o Sul, influenciaram as feições locais, esculpidas em seus planos de fratura, deixando pontões rochosos mais resistentes na paisagem.

Conjunto da Pedra Grande e Pedra Hime, próximas ao Rio Grande em Jacarepaguá, emoldurado pelas maiores elevações do Maciço da Pedra Branca, com destaque do Pico da Pedra Banca na porção central da foto.

 Pedra Grande, Rio Grande, Jacarepaguá


Ao sul do maciço principal, a Serra de Guaratiba se destaca com seu alinhamento quase norte-sul. Com altitudes mais modestas — variando entre 100 e 400 metros — essa serra chega até o litoral apoiando arcos de praia protegidos por unidades de conservação. Sua composição rochosa guarda semelhanças com o corpo principal da Pedra Branca, mas suas formas arredondadas e o espaçamento entre cristas desenham uma paisagem alongada diferenciada do corpo principal do Maciço.

Serra de Guaratiba
Barra de Guaratiba
Serra de Guaratiba em seu contato com o mar, onde existe o acesso à Prainha e Grumari. A elevação em primeiro plano é o Morro do Rangel, com apenas 161m e logo em seguida, o famoso Pontal de Sernambetiba, hoje também chamado Pontal do Recreio, ícone da música de Tim Maia. À esquerda alguns pães de açúcar da face sul do Maciço da Pedra Branca, aparecem como a Pedra da Rosilha e a Pedra do Calembá. Ao fundo se alonga a vertente oeste do Maciço da Tijuca, com a sequência do Bico do Papagaio, Morros da Cocanha e Taquara, até da as Pedras Bonita e da Gávea, no clássico perfil do nariz do “Gigante Deitado”. Repare que a morfologia é marcada por vertentes mais íngremes na face Sul, associada às falhas do processo de abertura do Oceano Atlântico.
Extremo sul da Serra de Guaratiba, com a planície costeira da Praia de Grumari, com um dos últimos remanescentes de mata de restinga (ecossistema associado da mata atlântica), conservada pelas populações tradicionais caiçaras e recentemente pelo Parque Municipal Natural. Ao fundo a restinga da Marambaia ainda se expressa com seu arco de praia até o fim do município. Lá também remanescentes importantes da vegetação de restinga se mantiveram sob a proteção do Exército e Marinha.

“Praias selvagens” na ponta da Serra de Guaratiba: Inferno, Funda e do Meio

O entorno das formações serranas do Maciço da Pedra Branca é, como nos demais, rodeado por formações mais recentes da planície costeira, onde sedimentos marinhos e fluviais se sobrepõem, formando extensas baixadas, onde vargens, brejos e restingas se espraiam. A linha de contato entre esses dois domínios geomorfológicos é marcada por ruptura abrupta na paisagem, onde domínios distintos de funcionalidade hidrológica e ecossistêmica se encontram. Ali, o relevo se interrompe e só os restos sedimentares compõem um cenário de transição entre tempos geológicos distintos.

Agulha de Santíssimo, com o Maciço da Pedra Branca ao fundo, onde os remanescentes florestais guardam as marcas de diversos tempos históricos dentro do território do Quilombo Dona Bilina, em sua vertente norte.

O Maciço da Pedra Branca, com sua massa rochosa resistente e seus alinhamentos serranos, não apenas estrutura a morfologia da zona oeste carioca — ele conta, em silêncio, a história antiga de territórios ocultos do Sertão Carioca ao efêmero da cidade contemporânea. Agricultura, carvão, ex-escravizados e caiçaras deixaram marcas nessa paisagem.

Patrocínios

Parceiros

Realização

Pular para o conteúdo