Introdução à exposição
Curadoria: Heloisa Starling e Danilo Marques
Há 60 anos, um golpe civil-militar deu início a uma ditadura que, por 21 anos (1964-1985), fez o Brasil viver um dos períodos mais sombrios de sua história. A deposição do presidente João Goulart era mais um capítulo da cultura golpista brasileira — uma história que por diversas vezes teve o Rio de Janeiro como palco principal. E, no caso do golpe de 1964, embora a capital federal fosse Brasília, o Rio não deixou de ser protagonista: foi aqui que o presidente João Goulart decidiu realizar o comício para demonstrar seu apoio popular e foi no Maracanã que as tropas do General Olympio Mourão Filho assentaram base, ao chegar de Juiz de Fora, apenas para citar dois exemplos.
As 60 “memórias” que compõem a mostra abarcam o período compreendido entre 1º de janeiro e 15 de abril de 1964. No campo político, encontram-se eventos tais como o discurso de João Goulart no Automóvel Clube, o governador Carlos Lacerda sitiado no Palácio Guanabara e a Revolta dos Marinheiros. No universo cultural, 1964 foi o ano de lançamento de “Deus e o diabo na terra do sol” — marco do Cinema Novo dirigido por Glauber Rocha, e do auge de “Samba esquema Novo”, álbum de Jorge Ben Jor que quebrou o recorde da indústria fonográfica, ao vender 100 mil cópias. Foi também em 1964 que aconteceu a “epidemia do beijo”, uma resposta da população ao anúncio feito pelo secretário de segurança do Rio de que seriam presos todos que se beijassem na boca em público.
Em meio às disputas políticas, de um lado, e os sucessos culturais, de outro, a população mais pobre enfrentava seus próprios problemas — que não eram novos. Em janeiro, os moradores da favela do Pasmado, em Botafogo, tiveram que sair às pressas de suas casas, por conta de um incêndio criminoso. Em março, foi a vez da favela Getúlio Vargas, no Leblon, seus moradores foram obrigados a se mudar para bairros distantes da zona oeste, tais como Bangu e Vila Kennedy.
Não são novas também as tentativas de golpe. Os eventos abordados nessas exposições – presencial e virtual – fazem parte de um passado que, por vezes, insiste em se impor no presente. Olhar para o golpe de 1964 provoca importantes reflexões para que possamos pensar, coletivamente, sobre caminhos para o fortalecimento da nossa democracia, tão duramente atacada em diversos momentos da história do Brasil.