Morre Ary Barroso no domingo de carnaval
Gabriel Arruda
Há 60 anos, em um domingo de carnaval, morria o compositor Ary Barroso. E não era qualquer carnaval. Naquele ano, a Império Serrano desfilava com o enredo Aquarela Brasileira em homenagem ao famosíssimo tema de Barroso. “Aquarela do Brasil” contou em sua primeira versão com arranjos de Radamés Gnatalli e com a voz de Francisco Alves. Quem também o gravou foi o carioca Tom Jobim, para quem Ary era “um guru, um gênio brasileiro”.
Mineiro de Ubá, o músico chegou a cursar Direito. Adepto da boêmia, não concluiu o curso, mas narrou jogos de futebol. Trabalhou na rádio Tupi e marcou sua carreira como locutor, vibrando bastante com os jogos do Flamengo, e por sua gaita de brinquedo, que tocava sempre que saía um gol no estádio. No rádio, além do futebol, também apresentou o programa A hora do calouro. Em uma das gravações teria revelado a jovem Elza Soares, exclamando: “neste exato momento nasce uma estrela!”. Sujeito de vários talentos, foi também vereador do Rio e ainda comandou dois programas de televisão, o Encontro com Ary e o Calouros em Desfile.
Como musicista, seu lado mais conhecido e celebrado, o Mister Samba compôs mais de 200 músicas e várias obras primas. Parceiro de Vinícius de Moraes, foi gravado por diversos artistas como Gal Costa, Gilberto Gil, João Gilberto, Nara Leão e Frank Sinatra. Concorreu ao Oscar de melhor canção original, com o curta Brazil (1945), e compôs trilhas sonoras para o Walt Disney e Carmen Miranda.
Naquele início de fevereiro, internado por conta da cirrose que o mataria, ligou para o jornalista David Nasser, despedindo-se. Tinha plena certeza de que iria morrer: “Como sabe?”, perguntou Nasser, “Estão tocando minhas músicas no rádio”, respondeu.
O compositor costumava dizer que sonhava em deixar à posteridade alguma “coisa que o tempo não destruísse”. Deixou também saudades.
Capa do jornal Última Hora. Destaque para para manchete a respeito da morte de Ary Barroso. Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1964. Última Hora/ Hemeroteca Digital – Biblioteca Nacional, página 01
Tom Jobim e Ary Barroso. Acervo MIS – Divulgado no Facebook do Museu sem indicação de referência
Cartaz do filme “Brazil”. Acervo: Walt Disney Studio.
Ary Barroso com xequerê. Autoria desconhecida. Acervo: Arquivo Nacional