Anna Carolina Viana

Na manhã do dia 1º de abril, os ânimos no Palácio das Laranjeiras estavam exaltados. Diante do avanço inevitável das tropas golpistas, que somavam adeptos, Jango estudava o que fazer. Muitos ao seu redor o aconselhavam a prender o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, que desafiava abertamente Goulart pelos alto-falantes instalados na frente do palácio do governo do Rio. “O governo da Guanabara”, esbravejava Lacerda, “está cercado”, mas “disposto a todas as resistências. Abaixo João Goulart!”. Entretanto, receoso de desencadear um conflito ainda pior, Jango recusou os pedidos para prender Lacerda, o que foi decisivo para os avanços golpistas. A preocupação em evitar uma guerra civil norteou suas decisões. Além disso, o presidente havia sido avisado de que, caso o governador fosse preso, navios de guerra norte-americanos entrariam na baía de Guanabara e abririam fogo contra o litoral. 

O impasse estava dado e os poucos generais que ainda estavam ao lado de Jango o aconselharam a deixar o Palácio das Laranjeiras. A falta de segurança era incontestável. Assim, Goulart decidiu deixar o Rio. O destino inicial seria Brasília. Em uma Mercedes, dirigiu-se ao aeroporto.  Sua saída não passou despercebida pelos cariocas, que logo interpretaram a atitude do então presidente como uma fuga ou, até mesmo, uma renúncia.  Em bairros da zona sul, como Copacabana e Leme, o clima foi de festa: lençóis brancos foram estendidos nas janelas dos edifícios e tiros de canhão misturavam-se, nas ruas, aos gritos de vitória. 

Ao saber da notícia de que Jango deixara o Rio, Carlos Lacerda liberou as forças golpistas no estado. Naquele momento, estava prestes a acontecer uma manifestação favorável a Goulart na Cinelândia. Mas militares lacerdistas a reprimiram duramente. O dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, também conhecido como Vianinha, testemunhou a cena e ficou confuso com a postura dos militares: “Que loucura é essa? Estavam protegendo a gente no comício do dia 13! Hoje estão atirando em nós?”.