A Cidade Light, hoje totalmente esquecida, constituiu-se em espaço de grande significado para a história econômica e social do Rio de Janeiro e do Brasil. Vamos relembrá-la, pois. Reuniu as oficinas da empresa em um único terreno de 160 mil metros quadrados, próximo à estação de Triagem, antes ocupado por uma pista de turfe que pertencera ao Jockey Club do Rio de Janeiro. O terreno estava situado entre as ruas Conselheiro Mayrink, Doutor Garnier, Major Suckow, Francisco Manuel e Estrada Real de Santa Cruz (em trecho da atual Dom Hélder Câmara). Além do aterro, foram construídas duas grandes galerias com muitas ramificações, para escoamento das águas que atravessavam o terreno. A inauguração deu-se em 1930, já com vinte edifícios, e o evento contou com a presença do presidente da República Washington Luís – pouco antes do golpe de 1930.
Na imagem, a entrada principal das instalações onde se produzia ‘de tudo um pouco’ e que tornaram-se ainda mais importantes a partir de 1939, quando teve início a 2ª Guerra Mundial e a consequente escassez de importados – desde combustível até os medidores de gás e de eletricidade, entre muitos outros produtos e matérias primas. Muito se investiu em pesquisa nos seus laboratórios, visando incrementar a produção local. Ali, se construíam 150 bondes e 50 ônibus por ano, num padrão industrial sem precedentes no país.
Nesta fotografia, um aspecto da Cidade Light em Triagem. Ao fundo das instalações, a serra do Engenho Novo e depois, o maciço da Tijuca.
Na Cidade Light havia grandes depósitos de lubrificantes, tintas e madeiras, ferro e aço; serraria, ferraria, marcenaria e seção de pintura, que atendiam à demanda de fabricação não apenas de veículos, mas também de mobiliário; oficinas de construção de bondes e ônibus, caminhões e carros de aço; oficinas mecânicas para executar reparos de motores, máquinas elétricas, compressores, eixos, rodas e barcos; oficina de trefilação (onde se fabricava arame, fios e barras finas de metal), oficinas de galvanização e fundição de latão; fundição de ferro (postes, tampas das estações subterrâneas etc.). Havia até uma área específica para atender às demandas de fabricação e reparo das usinas hidrelétricas. Além de vestiário, restaurante, centro médico e demais instalações, visando o bem-estar dos trabalhadores.
A Cidade Light foi estratégica no processo de comunicação e propaganda empresarial. Frequentemente eram promovidas visitas de engenheiros, militares, políticos e representantes de sindicatos de trabalhadores, devidamente registradas e divulgadas na Revista Light. Em 2011 iniciaram-se as demolições da Cidade Light para a construção do Bairro Carioca. O projeto previu a manutenção de um prédio das antigas oficinas, que se transformou em uma escola. Esta reportagem de 1932, publicada na Revista Light, descreve a complexidade daquele empreendimento.
A Light investiu intensamente na formação de seu próprio pessoal. Embora já existissem iniciativas anteriores na trajetória do país, incluindo a criação das ‘Escolas de Aprendizes e Artífices’ a partir de 1909, foi depois de 1930, no governo de Getúlio Vargas, que a educação profissional técnica passou a receber maior atenção da esfera federal. E mais à frente este campo se estruturou no âmbito privado, com a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI – em 1942. A Cidade Light era também uma grande escola, como se vê. E você, conhece alguma história de um ex-funcionário da Light que levou à frente o seu aprendizado, investindo em outros empreendimentos ao deixar a empresa?