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Leopoldina Railway; Rua Dona Anna Nery [Bondes avariados] – 07/07/1910 – Fotógrafo não identificado

Acidentes sempre fizeram parte da história das cidades; no Rio nunca foi diferente. Até hoje, acidentes e desgraças afins atraem o público, juntam gente nem sempre solidária à volta, assim como ocupam um espaço de destaque na imprensa falada, escrita e televisionada, nas redes sociais e nas rodas de conversa. Mas este não é um traço do carioca; é um traço da humanidade. Há mais de um século, no entanto, presenciar um acidente de bonde podia representar a oportunidade de ter a sua imagem eternizada em uma chapa fotográfica. Esta fotografia buscou dar uma visão mais ampla, abrangente do ocorrido – e os curiosos não se furtaram a integrá-la.

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Bonde avariado por encontro com o caminhão 6-8418 na Avenida Nossa Senhora de Copacabana – Linha: Ipanema – Carro N 2059 – 20/08/1946 – C. A. Barton

As imagens a seguir integram o gênero da fotografia pericial, produzida com o objetivo de documentar o sinistro, além de prover evidências quanto aos danos ocasionados ao veículo. Observe-se que na Light, cada acidente envolvendo os bondes era cuidadosamente documentado em álbuns contendo todas as informações de interesse para a empresa – custos envolvidos no reparo, o tempo que o veículo ficou fora de serviço etc. Na maior parte das vezes, eram os caminhões que se envolviam em acidentes com os bondes, resultando em grandes estragos.

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Bonde abalroado por caminhão Lic. 8-75-80 da Aeronáutica na Rua 7 de Setembro, esquina com Uruguai – Linha: Tijuca – 05/12/1946 – C. A. Barton

Vale lembrar que afora as avarias aqui registradas, que denominados ‘danos materiais’, havia os ‘danos pessoais’ envolvendo os passageiros e outros. Isto sem considerar os frequentes acidentes envolvendo os ‘pingentes’, que viajavam nos estribos dos bondes.

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Rua da Carioca – Sem data – J. Faria de Azevedo

Os acidentes já demonstravam um problema crescente para a circulação dos bondes: a disputa pelo espaço com os automóveis, ônibus e caminhões – veículos cuja produção aumentava no país e que iam progressivamente se tornando mais presentes no dia-a-dia do Rio. No início de 1950, a Light elaborou um detalhado estudo intitulado “O problema do congestionamento do tráfego no Rio de Janeiro – sugestões para o melhoramento da situação”, em que detalhava a circulação diária de trens, bondes, lotações (ônibus) e táxis, e dava atenção especial às quantidades de veículos que circulavam pelas mesmas vias dos bondes.

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Avenida Passos – 1950 - Fotógrafo não identificado

Em 1949, haviam sido licenciados 66 mil novos veículos na cidade. Eram quase 200.00 veículos circulando por dia e os congestionamentos prejudicavam o tráfego dos bondes, causando constantes supressões de viagens. Apenas no mês de novembro daquele ano, um milhão e trezentos mil lugares foram suprimidos, devido ao congestionamento do tráfego. Mas os seus números ainda impressionavam: em 1949, a soma dos passageiros transportados em trens, automóveis e ônibus não alcançavam os números daqueles levados pelos bondes, equivalentes a 53% de todos os meios de transporte da cidade.

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Praça Onze – 1963 – Fotógrafo não identificado

O estacionamento de veículos nas principais vias da cidade também concorria para o congestionamento do tráfego. A proposta era proibi-lo nas artérias de tráfego pesado de bondes – o que seria indicado por uma faixa amarela, que seria pintada nos postes de iluminação para indicar o estacionamento proibido. Novos locais para estacionamento seriam necessários. Apesar de todos os esforços de sensibilização e de algumas medidas tomadas, os problemas se acumularam. O negócio deixara de ser lucrativo, a qualidade dos serviços caíra, o valor das tarifas era frequente objeto de reclamação por parte dos usuários e havia pressão pela estatização, mas também por parte dos empresários de ônibus.

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Largo da Carioca – 1950? – Carlos

A década de 1960 marcou o fim da era dos bondes. Em 1963, um decreto do governador do então estado da Guanabara, Carlos Lacerda, extinguiu as linhas na cidade. Logo deixaram de circular os bondes da Zona Sul, e duzentos ônibus elétricos italianos passaram a circular, ligando aquela região ao Centro. Eram operados pela recém-criada CTC - Companhia de Transportes Coletivos. Tiveram curta duração e foram substituídos por veículos a diesel. Em 1964 a CTC absorveu as linhas restantes do bonde para a Zona Norte. Entre 1965 e 1967, havia apenas duas linhas preservadas, Santa Teresa e Tijuca - Alto da Boa Vista, esta última encerrada em 1967. Ainda assim, o bairro de Santa Teresa resistiu e segue contando até hoje com seus serviços, que tornaram-se uma das atrações do Rio.

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