A situação das mulheres no mundo fabril

Um dos resultados da inclusão das mulheres no mundo fabril foi a dupla jornada, uma vez que as operárias continuaram responsáveis por todos os afazeres da casa, o cuidado com as crianças e com seus maridos. Ao mesmo tempo, na fábrica, eram exploradas com disfarces que insinuavam que as mulheres teriam trabalhos menos exaustivos e, além disso, eram todo tempo afetadas pela autoridade dos chefes de setores, que ultrapassavam os limites do trabalho e assediavam as operárias, que viviam sob o signo da intranquilidade, preocupadas em manter seus empregos e não se sujeitar aos olhares e investidas de todos os homens com os quais conviviam nas fábricas.

Mulheres trabalhando na oficina da Companhia Tijuca de Tecidos. Fonte: Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI) – UFF

Essas situações representam o não reconhecimento das mulheres operárias como protagonistas no mundo do trabalho – eram consideradas trabalhadoras de segunda linha. No Brasil do fim do século XIX e início do XX, as mulheres brancas – já que as negras sempre estiveram inseridas no mundo do trabalho, principalmente durante o regime escravista – eram relegadas à posição de submissão aos maridos ou aos pais. Essa visão de que deveriam se comportar de modo tal que demonstrassem educação e fragilidade, permanecendo alheias ao universo do trabalho e voltadas para o cuidado da casa e das crianças acompanhou as mulheres trabalhadoras pelo menos até os anos 1950.

Dessa forma, as operárias constantemente eram incorporadas aos setores em que o peso do trabalho fosse mais leve, igualando-as às crianças trabalhadoras. A frequente substituição da mão de obra feminina pela masculina, quando havia oferta, ajudou na criação de um imaginário de que as mulheres não seriam capazes de exercer funções de liderança ou de estar à frente das lutas operárias.

Costureiras no Rio de Janeiro, 1918. Fonte: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.

A prática, entretanto, mostrou que as mulheres assumiram posições de relevo na organização de passeatas e de greves em muitas fábricas cariocas, lutando por melhorias de salários, limitação da jornada de trabalho, melhores condições de salubridade e defesa de sua honra contra o assédio sexual. 


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