Igor B. Cardoso

Rio de Janeiro
Cidade que nos seduz
De dia falta água
De noite falta luz.
Vagalume, de Vitor Simon e Fernando Martins (1954)

Os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro amanheceram praticamente parados. Trabalhadores do Grupo Rio Light, empresa responsável pela distribuição de gás, energia elétrica, telefonia e transporte iniciaram uma greve, deixando vários serviços caóticos. Os bondes ficaram fora de circulação, enquanto os setores de gás e energia foram parcialmente paralisados, prejudicando hospitais e restaurantes. Na telefonia, foram afetadas, em especial, as estações interurbanas.
Essa situação caótica, porém, vinha se arrastando há tempos. Em razão da estiagem que diminuía sensivelmente a vazão do rio Paraíba do Sul e do nível do reservatório de Lajes, bem como da falta de planejamento estrutural de médio e longo prazo, as hidrelétricas operadas pela Light não conseguiam atender a demanda crescente de eletricidade. Moradores, comerciantes e industriais conviviam diariamente com racionamento de energia.
Em relação à greve, o impasse entre os sindicatos e a empresa girou em torno da data de vigência do último acordo salarial. Enquanto os grevistas exigiam aumento salarial de 100% a ser aplicado a partir de janeiro, a Light aceitava conceder aumento apenas em abril.
Como a Light mantinha contratos de concessão de serviços públicos tanto com a Guanabara quanto com o governo brasileiro, as rivalidades políticas entraram em cena. Lacerda, governador da Guanabara, e Amaury Silva, ministro de Goulart, trocaram farpas publicamente em relação ao assunto.
O acordo veio 72h após o início da paralisação com vitória parcial para os grevistas: aumento de 60% a partir de janeiro e outros 40% em abril. Em compensação, as tarifas de serviços da Light foram reajustadas.