Eu vim da Bahia

Eu vim, eu vim da Bahia cantar
Eu vim da Bahia contar
Tanta coisa bonita que tem

Trecho de canção de Gilberto Gil – Eu vim da Bahia

Alberto Henschel. Duas negras pousando em estúdio, c. 1869. Salvador, Bahia / Instituto Moreira Salles

A partir de 1850, com o fim do tráfico atlântico e nas décadas que antecederam a abolição, com o desenvolvimento ainda mais intenso da cidade, além do estabelecimento da comunidade baiana vinda nas décadas imediatamente anteriores criando redes de recepção, chegam mais migrantes negros da Bahia. Muitos se estabeleceram nas áreas próximas ao porto do Rio de Janeiro, empregando-se nas atividades da estiva e transporte de mercadorias, e também nos grandes armazéns de exportação e importação ali situados. Famílias descendentes de baianos e baianas, tendo entre estes alguns nascidos na África – trazidos pelo tráfico ilegal – se formam na região portuária, onde foram recebidas por parentes, irmãos de fé e amigos que já habitavam o local. Algumas famosas tias baianas, como Tia Bebiana, Perciliana, Tia Carmen do Xibuca e Tia Ciata, entre outras, fazem parte desta onda migratória que se estende até a virada do século XIX para o XX. 

Foto atribuída às tias Ciata e Josefa. Autoria desconhecida.

As primeiras casas de candomblé da cidade surgiram do contato destes migrantes negros baianos com africanos e seus descendentes diretos na cidade. Neste Rio Atlântico aporta, vindo de Salvador, o babalaô iorubá Bamboxê Obitikô, personagem destacado do mundo atlântico, que estabelece o Ilê Axé Opô Afonjá no bairro da Saúde, no ano de 1866.

Na terceira década do século XX, chega à mesma região Iyá Davina de Omolu e a casa em que vivia com seu marido Theophilo Marcelino Pereira, também localizada  no bairro da Saúde, acaba ficando conhecida como o Consulado da Bahia, por acolher os que vinham de lá. Esta população baiana cresceu e se espalhou pela região central da cidade, buscando moradia no entorno da Praça Onze, nas encostas dos morros que cercavam o centro do Rio de Janeiro, como o Morro da Providência e o de São Carlos, começando a ir pelos caminhos da linha do trem para os subúrbios. Assim, as rotas costeiras atlânticas iniciadas no porto de Salvador deságuam nas praias cariocas e se espraiam território adentro, na cidade que cresce.

Vista do centro da cidade a partir do Morro da Providência, c. 1890. GIlberto Ferrez – Instituto Moreira Salles

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