O plano para a tomada da Guanabara
31 de março de 1964
Danilo Araujo Marques
Por volta das 5h daquela manhã de terça-feira, o chefe do Estado-Maior do Exército, general Humberto Castello Branco, recebeu um telefonema em sua casa, na rua Nascimento Silva, em Ipanema. Do outro lado da linha, o deputado federal Armando Falcão, do Partido Social Democrático (PSD), dava conta de que tropas lideradas pelo general Olympio Mourão Filho – comandante da 4ª Região Militar e da 4ª Divisão de Infantaria do I Exército – desciam de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro. Para bom entendedor, um pingo é letra: o levante militar para derrubar Jango – meticulosamente conspirado e costurado ao longo de meses – acabava de ser atropelado.
Mas, enquanto Castello Branco recebia a notícia, o cenário ainda não tinha se alterado tanto do lado de lá da fronteira com Minas Gerais. Apesar de 4 mil soldados estarem de prontidão desde as 6h40, todos permaneciam devidamente estacionados. Por obra do bravateiro general Mourão, a propaganda havia chegado muito antes do produto. Com sede de protagonismo, o autonomeado “Comandante das Forças em Operações da Defesa da Democracia” havia encaminhado a emissoras de rádio e redações de jornais um “Manifesto à Nação e às Forças Armadas”, no qual se declarava rebelado frente à legalidade vigente.
O alto comando das Forças Armadas não costumava botar muita fé nas palavras de Mourão – até porque seu plano de tomada da Guanabara não era algo propriamente novo. Só que, naquele dia, o militar mineiro estava decidido a tomar as rédeas da situação e colocou o Destacamento Tiradentes em marcha pela estrada União e Indústria, rumo à Guanabara. O Jornal do Brasil deu a letra: “Minas desencadeia luta contra Jango”. Já não havia mais volta. O golpe estava oficialmente nas ruas.
Passagem do Destacamento Tiradentes pelo município de Areal (RJ). Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional
Passagem do Destacamento Tiradentes pelo município de Areal (RJ). Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional.
O General Olímpio Mourão Filho, após movimentações que iniciaram o golpe, e Magalhães Pinto, então governador de Minas Gerais. 01/04/1964. Imagem em domínio Público.