Isabella Souza
Ainda era manhã quando a multidão começou a se formar ao redor do palanque erguido na Estação Central do Brasil. Caravanas de todos os estados chegavam sem parar e o tom cinzento dos prédios foi cedendo lugar às faixas e cartazes trazidos pelos quase 300 mil brasileiros que queriam ouvir o presidente João Goulart anunciar as Reformas de Base, no comício marcado para às 17h30.
O evento, que contou com a presença de nomes significativos da política nacional, como Darcy Ribeiro, Miguel Arraes e Leonel Brizola, seria para Jango o anúncio do apogeu de suas realizações na Presidência da República. As Reformas seriam o início de um movimento em direção ao desenvolvimento social e à prosperidade econômica, sem depender do capital estrangeiro.
Diante da multidão, Goulart anunciou medidas para garantir as reformas agrária, urbana, educacional, tributária e eleitoral. Comunicou ainda que garantiria a emancipação de refinarias de petróleo privatizadas, tabelaria a cobrança dos aluguéis em todo o Brasil, desapropriaria terras improdutivas às margens de rodovias e ferrovias para dividi-las e disse contar com o apoio das Forças Armadas.
O clima político, no entanto, não era favorável. Enquanto grande parte da população recebia em êxtase os planos de Jango – sobretudo a população mais pobre, que ansiava pelo direito ao voto e à terra –, os jornais anunciavam que os ruralistas de Minas Gerais, inflados pela oposição, já estavam se armando para defender suas propriedades, ameaçadas pelo “comunismo janguista”.
O Presidente estava sendo acusado de atropelar a Constituição e de conspirar por um Golpe de Estado no país. A polarização política se instaurou definitivamente após o Comício da Central do Brasil e pode ser considerado o estopim para o golpe que o sucedeu.
