O boom de galerias na cidade

Até o final da década de 1940, as poucas galerias que surgiram na cidade eram espaços de arte em que também se exerciam outras funções comerciais – molduras, edições de livro, compra e venda de obras. A partir da década de 1960, essa situação se altera completamente com o surgimento de galerias cujo perfil comercial era articulado ao perfil propositivo de exposições e interferência crítica na cena de arte local. 

Algumas das principais galerias da cidade nasceram ainda na década anterior, como a fundamental Petite Galerie, inaugurada pelo pintor Mario Agostinelli na Avenida Atlântica, Copacabana, ao lado do antigo Cinema Rian. Alguns anos depois, Franco Terranova assume a galeria e, após um período de dificuldade, se transfere com novos sócios para a Praça General Osório, Ipanema. Lá, imprime um perfil ao mesmo tempo moderno e experimental, com artistas como Milton da Costa, Di Cavalcanti e Rubem Valentim ao lado de jovens artistas que viviam no Rio de Janeiro, como Rubens Gerchman e Roberto Magalhães. 

Notícia da inauguração da Galeria Macunaíma, com a exposição “30 anos de arte brasileira”, listando os artistas representados.

Ainda na década anterior surgiram as importantes galerias Dezon, na Rua Almirante Gonçalves esquina com a Sá Ferreira e a Galeria Macunaíma (criada por alunos da Escola Nacional das Belas Artes) e, em 1960, a Galeria Bonino, na rua Barata Ribeiro, Copacabana. Essa última, fundada por Alfredo Bonino e administrada por Giovanna Bonino, merece destaque por ter sido a primeira galeria da cidade projetada especificamente para expor obras de arte. Foi uma das mais duradouras e sólidas galerias especialmente para exposições visuais da cidade, além de criar um fluxo importante com outras galerias de Nova York e Buenos Aires. Por mais de duas décadas, expôs os grandes nomes da arte brasileira de seu tempo, equilibrando figurativos, abstracionistas informais e geométricos – as três grandes vertentes brasileiras dos anos 1950. Como exemplo de sua importância, ainda em outubro de 1960 Lygia Clark expôs pela primeira vez seus Bichos, trabalhos revolucionários de esculturas com dobradiças que ficariam famosos mundialmente. 

Lygia Clark em sua exposição na Galeria Bonino, 1960. Portal Lygia Clark

Em 1961 outro importante espaço aberto na cidade foi a Galeria Relevo, na Avenida Copacabana. A importância da Relevo no meio cultural da cidade tem relação com a presença de um de seus proprietários, Jean Boghici, um romeno com mil peripécias vividas até chegar ao Rio de Janeiro e, junto com sócios, abrir a galeria. Sua grande diferença com as outras galerias da cidade, como a Bonino, foi contratar como artistas exclusivos os jovens Rubens Gerchman, Antonio Dias e Wanda Pimentel, os dois primeiros com grande destaque no período. 

Rubens Gerchman, Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Antonio Dias e Pedro Escoteguy, exposição de Gerchman na Galeria Relevo, 1965. Fonte: Sita Das Artes

Outras galerias desse período que podem ser destacadas foram Sobradinho, na rua Leopoldo Miguez, a Galeria Gea, na rua Barão de Ipanema, ambas abertas em 1962, a Galeria Goledi, aberta na rua Prudente de Moraes em 1964, a Galeria G-4, na rua Dias da Rocha, Copacabana, em 1966 (com a única exposição individual de Hélio Oiticica no Brasil), além de diversas outras que, se não tiveram maior expressão na vida cultural da cidade, ampliou e diversificou definitivamente o mercado de arte brasileiro e carioca. 

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